segunda-feira, 21 de abril de 2014

Gays com deficiências: “As pessoas acham que a gente não faz sexo”


Nos cinemas brasileiros desde a última quinta-feira (10), o filme “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” conta a história de Leo
(Guilherme Lobo), um jovem cego que se apaixona pelo colega de escola Gabriel (Fábio Audi). Premiado internacionalmente, o longa coloca em evidência os relacionamentos afetivos dos homossexuais que lidam com limitações físicas em seu dia a dia. Com paralisia cerebral, o ator carioca Pedro Azevedo Fernandes, 22, é um deles.

“Nasci de cinco meses. Na hora do parto, faltou oxigenação no cérebro. Minhas funções cognitivas foram preservadas, minha paralisia não afetou nem fala nem intelecto, só a parte motora”, explica Pedro, que namora há cinco meses o técnico de informática Thiago Matias de Oliveira, 28.

Thiago revela que se encantou com o agora namorado logo que viu uma imagem dele na internet. “Conheci o Pedro pelo Instagram, vi uma foto dele e fiquei apaixonado. Perguntei a um amigo quem era ele e depois nos adicionamos no Whatsapp. Conversamos por quase dois meses”, relata o técnico de informática.

Por conta de suas limitações físicas, Pedro se mostrava reticente nas conversas, mas o técnico de informática não desanimou. “Ele tinha preocupações de me ver o ajudando em algumas necessidades como tomar banho. Dizia que não queria que eu fizesse certas coisas por ele e foi me preparando para tudo. Mas não pensei muito a respeito disso. Sempre fiz tudo por ele de boa”, conta Thiago.

Os receios de Pedro não eram sem motivo e vinham de experiências anteriores. “Eu saia pra balada, ficava com um e outro, mas sentia muito preconceito. As pessoas não se aproximavam por medo, por não saber como lidar. Cheguei a ouvir frases como ‘ele é até bonito, mas não vou ficar com ele porque é cadeirante’”, descreve o ator.

Com o namoro, Thiago também passou a enfrentar situações de preconceito. “As pessoas falam coisas do tipo: ‘Credo, como ele tem coragem de ficar com um cadeirante?’ e ‘Imagina as posições limitadas deles?’. Mas nós tiramos isso de letra, não damos ouvidos a esse tipo de comentário”, diz o técnico, ressaltando, no entanto, que também recebe mensagens de apoio. “As mulheres no geral acham a gente um casal fofo e falam que somos lindos.”

CARA DE COITADO

Hoje com 40 anos, a funcionária pública Selma Rodeguero ficou paralitica aos 17 anos em um acidente automobilístico. Já tendo consciência de que era lésbica, ela só se assumiu no ano seguinte ao que ficou com a deficiência. Também passando por situações de preconceito, Selma sente que o fato de ser cadeirante incomoda mais os outros do que a sua orientação sexual.

“Sou muito bem resolvida, então não estou nem aí. Quero mais que me olhem e saibam que eu sou sapatão. Agora em relação a ser cadeirante é pior, as pessoas acham que a gente não faz sexo, que não consegue fazer nada sozinho. Olham com aquela cara de que a vida acabou. Cara de coitado, sabe?”, desabafa Selma.

Mas Selma rejeita o indesejável título de ‘coitada’, confessando ainda que a sua vida afetiva e sexual é mais do que satisfatória. “A mulher lésbica lida muito bem com isso, impressionante como elas gostam, acho que é o lado materno. Homens são muito encanados com a aparência, mas mulher não.”

Surdo, o educador e artista plástico Leonardo Castilho, 26, convive com esta deficiência desde os oitos de meses de idade. Mas da mesma forma do que Selma, ele não vê essa limitação atrapalhar a sua vida afetiva. “A maioria dos caras se aproximam por eu ser surdo. Eles querem aprender a se comunicar, conhecer outras dimensões”, explica Leonardo, que também não tem problemas em abordar quando está interessado em alguém.

“Tenho uma estratégia. Como sou surdo, a minha fala é parecido com a de um gringo, alguém que fala espanhol. Eles acabam pensando que sou estrangeiro. Mas esclareço, falo que sou surdo e que sei libras. Eles adoram essa diferença em se comunicar”, se diverte Leonardo, relatando o encantamento de seus paqueras com suas habilidades comunicação.

O artista plástico só se relacionou até o momento com pessoas não surdas, um dos seus parceiros até virou intérprete. “Eu abri a porta para ele entrar no mundo dos surdos. Ele se afastou dos amigos ouvintes para desenvolver a libras na comunidade surda. Andava só com os surdos todos os dias”, narra Leonardo.

VIDA SEXUAL ILIMITADA

As limitações físicas interferem inegavelmente na vida sexual de quem tem deficiências físicas, mas isso não os impede de fazer sexo e de ter prazer na cama, como faz questão de ressaltar Selma, que percebeu alguns sentidos ganhando destaque depois do acidente.

“O cadeirante tem tesão, apesar de não ter a sensibilidade física. O prazer vem de outras formas, com o olfato, o tato e a visão. Descobri meu corpo muito mais, tem pontos do corpo que eu só sinto agora. Com toque e muita ternura, dá para se chegar ao orgasmo”, ressalta Selma.

Discreto, Thiago revela que a vida sexual com o namorado cego é amplamente satisfatória. “Só digo que o sexo não é nada limitado”, deixa escapar o técnico de informática. O parceiro Pedro confirma o prazer ilimitado, explicando que os dois estabeleceram uma dinâmica própria na cama. “Ele vai me segurando e me guiando. Eu consigo ser ativo inclusive, mas prefiro ser passivo”, confessa o ator.

Fonte: Alagoas 24 Horas

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