segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Solidários com o meu protesto de 180 kms em cadeira de rodas pelo direito a uma Vida Independente

Sobre a minha viagem de protesto: http://tetraplegicos.blogspot.pt/2014/08/concavada-lisboa-em-cadeira-de-rodas.html Tenho que partilhar convosco dois dos vários emails de incentivo que recebi, e que me tocaram de uma maneira muito especial. É nestes gestos que vou buscar muita da força que neste momento necessito.

1º enviado por Mário Relvas, pai de um filho autista:

Bom dia,

Está a chover em Braga. O céu está escuro e troveja.  Renovam-se as estações do ano. Os dias começarão a diminuir e a noite chegará mais cedo.  É o Outono que está à porta e nos recorda que a viagem do tempo prossegue inexoravelmente.

O silêncio reina pela manhã. Muitos bracarenses passaram a noite em branco. A cidade, neste domingo cinzentão, começará a retomar a sua normalidade lá mais para a hora do almoço.

Muitos outros ao longo do resto do país não resistiram à febre de sábado à noite e também passaram a noite em branco.

É bom que as pessoas se divirtam, de quando em vez, para espairecer. Com tino.

Mas não podemos esquecer a realidade dos diferentes e de quem com eles vive em dedicação. E dos que vivem sem grande apoios e buscam apenas um pouco de conforto e ânimo.

Há casos que não se entendem: "trataram-me pior que um cão". Este é um velho caso e alerto para as subempreitadas: 200 mil casas têm TV pirata - a EDP está a acabar com elas formando técnicos próprios com formação geral e específica e devidamente credenciados para poderem atuar no terreno. Este eu também entendo: Vítor Bento confirma saída do Novo Banco - há que vender o que resta do banco o mais rápido possível. E também entendo o motivo porque asFinanças atacam criadores de cães - há por aí gente a ganhar muito dinheirinho com o negócio dos animais de estimação sem declararem um cêntimo ao fisco.

Mas o principal motivo porque escrevo este correio é para que nos lembremos do Eduardo Jorge e de tantos como ele que gostariam apenas de ser um pouco mais confortados na sua vida diária.

Quanto a nós, cá em casa: vamos passar mais um domingo em volta do Bruno e do seu autismo - cansativo por hiperativíssimo, mas honestíssimo porque desconhece o oportunismo e as falcatruas da vida.

E vou para a cozinha desforrar-me na feitura de umas favas estufadas com frango que leva uns condimentos especiais a que não poderia faltar um pouco do meu molho especial de piripiri. O seu principal ingrediente já nasce aqui na varanda - ver foto em anexo.

Deixo-vos um texto e o endereço de correio eletrónico do Eduardo Jorge para o caso de o querem contatar: tetraplegicos@gmail.com

Cumprimentos e bom domingo.


2º email é da autoria do Tó Silva (tetraplégico), que fez o favor de o enviar para todos os grupos parlamentares:

Aos representantes do ...

Exmos. Senhores

Escrevo-vos na condição de deficiente motor, tetraplégico, dependente de terceiros
Tendo em consideração que o vosso partido se preocupa com causas sociais, venho pela presente informá-los e também pedir um pouco de atenção e ajuda para uma causa que vem sendo desconsiderada há muito tempo.
De 23 a 25 de Setembro, um colega tetraplégico, fará uma viagem de cadeira de rodas desde a Concavada (Abrantes) até Lisboa, com o intuito de chamar a atenção para o direito que uma pessoa com deficiência motora tem de ter uma vida independente.

Já no ano passado este senhor, Eduardo Jorge, propôs-se fazer uma greve de fome em frente à Assembleia da República, sendo na altura abordado pelo Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Agostinho Branquinho , que o demoveu da referida greve de fome, com a promessa de que iriam ser desenvolvidos meios de auxílio. Mentira. Até hoje nada foi feito. Portanto, apelo, junto do vosso partido com toda a estima que ele merece, para que apoiem esta causa e se informem da situação.

O Eduardo Jorge tem a coragem de levar a cabo esta façanha que pode ser perigosa para a sua própria saúde. No entanto, ele representa um grande numero de pessoas que estão dependentes de terceiros e, como tal, não têm independência para fazer uma vida normal, nem meios para conseguirem expor os seus problemas. No fundo, é como se fossem obrigadas a cumprir uma pena pelo crime de serem deficientes motores, simplesmente porque não têm quem as auxilie. São um grupo de pessoas sem voz, mas com problemas reais e com um pedido simples: ter quem as auxilie no dia-a-dia.

Neste momento tenho quem cuide de mim, uma MÃE espectacular e lutadora que tudo faz para que eu tenha o mínimo de qualidade de vida, estudasse e trabalhe (e tantas vezes à custa da sua própria qualidade de vida). Pergunto-me: qual é o agradecimento que tem por isso?
Considero-me uma pessoa inteligente, com iniciativa e trabalhadora. Sim, porque estudei, tenho emprego e participo em actividades de âmbito social. Isto tudo graças à minha mãe, que se certifica que tenho independência para o fazer. Veste-me, lava-me, cuida da minha higiene, alimenta-me, levanta-me e deita-me; mais umas quantas coisas que necessito.

Interrogo-me frequentemente, se quando a minha mãe não conseguir cuidar de mim, terei de abdicar da minha vida actual?
Neste momento a resposta é sim. Deixaria de ser uma pessoa participativa na sociedade, para ficar confinado a um lar, porque o Estado não me concede a hipótese de ter um cuidador. É triste e frustrante, pois tenho muito a contribuir para a comunidade.

 Por vezes fico triste quando vejo na televisão programas que transmitem pessoas com deficiência, dependentes, felizes e contentes porque têm por trás uma independência financeira que lhes permite ter um certo conforto e independência. Isso não corresponde à realidade. Trata-se apenas de uma pequena percentagem.
Tal como eu existem inúmeros casos parecidos, sem independência, mas com o direito de a ter. Coisa que não acontece.

Fazer uma viagem como esta, de cadeira de rodas, pode parecer algo simples para quem é leigo no assunto. No entanto, isso acarreta vários problemas físicos, desde o simples facto de poder ser atropelado, pois a maior parte das estradas não têm passeios acessíveis; ao poder ganhar uma ulcera de pressão; até poder ganhar uma tendinite por dirigir tanto tempo; isto e muitos mais factores perigosos.

Portanto esta iniciativa não é apenas um acontecimento "bonito", mas uma chamada de atenção para este drama, que o Eduardo Jorge defende, por ele, e principalmente por todos que não se podem manifestar, mesmo colocando em risco a saúde.

Por isso, mais uma vez reitero a minha consideração pelo vosso partido e peço que apoiem esta iniciativa, informando-se sobre esta luta por uma vida independente e contribuindo para que sejam criados meios de apoio.
Peço que enviem alguém para falar com o Eduardo Jorge, que certamente lhes explica todos os porquês desta revindicação. 

Podem seguir o blog dele em: tetraplegicos.blogspot.com 

Certo que este mail e toda esta causa, terão a melhor das considerações da vossa parte.
Subscrevo-me com estima e consideração.

Eu: Através destes dois exemplos de emails deixo um obrigado muito especial a todos os que me têm contatado a solidarizar-se com a minha ação.  Professor António Carraço, a sua carta emocionou-me.

Eduardo Jorge 

1 comentário:

  1. Eduardo, diga-me como posso ser útil em mais esta batalha que vai travar.
    No face sou sua amiga (Guida Correia Pires). Força! Aguardo a sua resposta (no face é mais fácil.). Um abraço :)

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