quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

"Estive vários anos preso a uma cama sem saber que tinha direitos"

Depois da viagem de 180 quilómetros, em cadeira de rodas, desde a sua terra natal, Concavada, concelho de Abrantes, até ao Ministério da Solidariedade Social, em Lisboa, para reivindicar o direito a um cuidador, Eduardo Jorge foi obrigado a ir para o Centro de Apoio Social da Carregueira (CASC), concelho da Chamusca, onde vive desde Julho deste ano. "Tive que vir para cá porque deixei de ter uma cuidadora paga pelo Estado. O contrato dela terminou e nessa altura o Estado atribuiu-me apenas 315 euros para pagar a outra cuidadora. Como na altura estava a fazer um estágio em Serviço Social, como ganhava mais dinheiro, mais de 500 euros, o Estado achou que 800 e poucos euros era suficiente para eu ter uma cuidadora. Mas não é e por isso tive que deixar a minha casa", explica a O MIRANTE.

Eduardo Jorge conta que o principal motivo para ter tomado esta decisão foi o facto de ficar sozinho durante a noite. A cuidadora deixava-o virado e ele ficava assim até à manhã seguinte. O problema é que durante a noite podem acontecer muitas coisas como, por exemplo, febres altas e Eduardo não conseguia tirar a roupa para trás ou cuidar de si. "Começou a ser impossível e tive que tomar uma decisão", refere.

Devido à viagem, realizada em Setembro do ano passado, o seu estado de saúde agravou-se, o que fez com que tomasse a decisão de sair da sua casa, na Concavada. "Quando fiz a viagem a Lisboa esta instituição foi das que me deu mais apoio e força. Os idosos estavam todos aqui à porta quando passei a darem-me força e para não desistir. Fiquei muito emocionado e nunca mais os esqueci. Ficou uma ligação entre nós e entretanto convidaram-me para vir cá na festa de Natal do ano passado. Vi que as condições eram excelentes e perguntei se tinham vaga para mim. Eles disseram que sim e mudei-me para cá", recorda.

Como não é homem de estar parado, Eduardo Jorge, 53 anos, também trabalha na instituição. Está a fazer o estágio de Serviço Social. Em breve vão criar um gabinete de apoio à comunidade, onde Eduardo vai estar responsável por ajudar as pessoas que precisem de apoios sociais. "O Centro de Apoio Social da Carregueira trata as pessoas com dignidade e aqui consigo ser livre", revela.

Depois de terminar o estágio, Eduardo Jorge espera continuar a trabalhar no CASC. Se não for possível garante que vai continuar a viver no mesmo local, onde dispõe de um quarto individual, com casa-de-banho, televisão e Internet. Apesar dos problemas de saúde se terem agravado, Eduardo garante que a viagem de três a Lisboa em cadeira de rodas valeu a pena. "Não podemos reclamar e ficar de braços cruzados. Temos que lutar pelos nossos direitos. Estive vários anos preso a uma cama sem saber que tinha direitos. Só quando apareceu a Internet é que foi como viver de novo e percebi que tenho direitos e tenho que lutar por eles. Depois dessa viagem a comunidade e a comunicação social começaram a perceber o conceito de vida independente para pessoas com deficiência e isso é o mais importante", sublinha.

Eduardo considera que todos os Governos que Portugal já teve tratam as pessoas com deficiência como cidadãos de segunda. No entanto, afirma que o paradigma está a mudar. Antigamente, diz, existia o foco na deficiência e tentavam curá-la. Hoje já se olha para as capacidades das pessoas com deficiência e tentam inseri-las na sociedade. "Aos poucos as coisas vão mudando. Tenho sempre esperança que um novo governo mude as coisas e nos olhem como iguais, como a maioria dos países evoluídos já faz", realça.

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Fonte: O Mirante

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